quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pacote de ilusões, por Apolinário Ternes*

Vencido o primeiro mês desde o anúncio do “pacote” de medidas do governo do PT em Joinville, encaminhamentos e reações revelam que se trata de mero factoide para desviar a atenção do principal: a impossibilidade técnica e o desastre político da não-concessão de reajuste salarial aos servidores. O resto é foguetório e encenação, menos a greve dos servidores.
Transferindo a discussão de eventual reajuste para janeiro do ano que vem, avocando medidas irrealizáveis no curto prazo, o governo continua fazendo o que sempre fez desde o início: ergue muros de explicações inconsistentes e desculpas esfarrapadas para esconder sua incapacidade de gestão. Em todas as áreas, da cultura à educação, de obras a realizações no turismo, do esporte ao sistema viário, tudo que é da Prefeitura parou e não há sinal de movimento até o final do ano que vem, quando, por certo, a remoção será definitiva. A extinção das secretarias regionais ficou para janeiro do ano que vem e depende de aprovação da Câmara. De todas as medidas anunciadas – consideradas exercício de imaginação de abençoado assessor, sem compromisso com a realidade – resta a decisão de transferir o reajuste dos servidores para 2012. Nem mesmo a extinção de 1,8 mil cargos de melhor remuneração é verdade. Explicado depois, trata-se do “não-preenchimento” de vagas existentes. Dos mais de 11 mil servidores da Prefeitura, nenhum será demitido na cota dos 1,8 mil anunciados cargos extintos.
O governo premiou servidores incapazes de prosseguir com eficiência projetos empacados (os dez parques jamais concluídos, apesar de dinheiro do exterior) guindando-os a funções mais elevadas, ou de retorno a antigos postos, numa política de constrangedora desfaçatez a princípios da meritocracia. Por falta explícita de quadros, o governo se viu obrigado a efetivar suplentes em secretarias importantes, comprovando notórias dificuldades em trazer nomes novos para a administração pública. Assim, o que era reforma virou remendo, se tanto.

Na reta de chegada, o PT revela-se de escassa produtividade e incapaz de resolver velhos problemas como a manutenção de prédios públicos, agilidade nos serviços burocráticos, conclusão de qualquer projeto e, pior, manteve inchada a folha salarial e não resolveu nada na Saúde. Assim, sem conseguir pagar fornecedores e sem condições de reajustar a folha, o governo se despede de qualquer viabilidade eleitoral. Vai se agarrar ao PMDB, entregando os anéis para salvar os dedos. Mesmo assim, o governo delira, anunciando as obras da Companhia Águas de Joinville como realizações da Prefeitura, dando a entender que a ampliação da rede de esgotos é obra da administração direta. Fora disso, não há o que anunciar ou dizer à população. Apenas repetir a lamentação de que “o governo do Estado esqueceu a cidade” e que o dinheiro da União virá, por conta de “portas abertas” que o PT daqui jamais soube onde estão. Nem em Brasília nem em qualquer outro lugar. Um fiasco, do começo ao fim, com danos e custos incalculáveis à cidade, que retrocede em tudo desde o início da gestão do PT.


aternes@terra.com.br
*Historiador e jornalista