sexta-feira, 10 de junho de 2011

Repúdio à Copa do Mundo no Brasil

Dia desses, minha mãe me disse: “a Copa vai ser legal. Não vi nada em 50, mas agora nós vamos assistir a um jogo, né?”
Tomado pela emoção projetada do que seria ir ao estádio com Dona Maria, por um instante vacilei: “É mesmo, seria legal levá-la ao campo para ver um jogo de Copa do Mundo”.
Passou. A emoção se foi, os olhos secaram e os pensamentos voltaram ao normal. Horas mais tarde, eu já estava novamente seguro de minha posição sobre a Copa no Brasil: trata-se de uma vergonha! E gostaria de registrar: repudio a realização do Mundial aqui!
Há muitos motivos, desde os mais banais aos mais graves. Comecemos por estes:
1. É uma vergonha gastarmos tanta energia, tempo e dinheiro com eventos dessa natureza quando mais da metade da população brasileira vive sem acesso à rede de esgoto. Atenção, meus caros: mais da metade, mais de 100 milhões de pessoas, não dá tchauzinho para o seu cocô numa privadinha decente.
Esse é o Brasil da Copa...
2. É trágico investirmos tanto em estádios, arenas e o cacete-a-quatro em lugares no meio do nada, cujo resultado será mais um elefante branco entre analfabetos, desdentados e desamparados de toda a sorte, só para fazer política rasteira.
3. É uma lástima fazer Copa do Mundo num país que não tem infraestrutura mínima nem para a sua população. Tem aeroportos no Brasil que são do tamanho do terminal de ônibus da Parada Inglesa, com menos conforto do que este. Tem cidades, como a toda-poderosa São Paulo, em que basta uma chuvinha de meia hora para travar tudo.
Provavelmente ele também quer sentir o clima da Copa
4. É desesperador perceber que todo o mundo sabe que tudo está atrasado e que o remédio será o dinheiro público aplicado a rodo de última hora para satisfazer um nacionalismo bocó, insuflado pelo nosso ex-presidente e abraçado pelo “povo” que quer contar para os seus netos que viu um jogo de Copa.
5. É triste nos percebermos esquisitos: nós nos orgulhamos de coisas essencialmente ridículas. Soltamos fogos porque sediaremos o Mundial e a Olimpíada, “sabendo” de como as coisas são por aqui. E nos orgulhamos porque universalizamos o ensino fundamental (aquele de “primeira à quarta”) no final do século XX – quando os EUA o fizeram no final do século XIX.
6. É deprimente ver a iniciativa privada se mobilizar para gastar milhões e milhões com obras quase inúteis e, ao mesmo tempo, não encontrar um puto que se disponha a criar fundos de doação para financiar a pesquisa científica nas atrasadas universidades tupiniquins.
7. Por fim, é chocante observar como nosso complexo de vira-lata nos impede de levar a sério as “acusações” feitas por veículos de imprensa estrangeiros. A revista inglesa Four Four Two decretou a morte do futebol no Brasil; a ESPN americana falou em “Jogos Mortais”, ao se referir ao RJ. Um jornal norueguês acusou Ricardo Teixeira de negociar votos. Mas quê? São as potênciaistrangeira querendo impedir o nosso desenvolvimento, tentando limitar o nosso ziriguidum e a nossa malemolência.
A morte do Brasil, segundo a FFT
Por isso e muito mais sou contra a Copa do Mundo no Brasil.
Aliás, se Alckmin e Kassab batessem o martelo de que não haverá jogos em SP, eu faria questão de aplaudi-los de pé e, enfim, me sentiria representado. Seria a atitude mais nobre que se poderia tomar diante de tanta politicagem barata de gente como R. Teixeira, Andrés Sanchez et al.
E você, quer sentir o “clima da Copa” ou quer um país sério? Infelizmente, no Brasil, as duas coisas não são possíveis ao mesmo tempo.
P.S.: E os bombeiros presos no RJ, hein!? Logo lá, na cidade brasileira mais cartão-postal, mais progressista, mais esquerdista, mais cool, mais bossa-nova-sambinha-na-lapa? Imagina se isso acontece em SP, o que diriam os outros?
Fonte: Blog O Fino da Bola