sábado, 18 de fevereiro de 2012

Fãs vaiam argentino, implicam com Maradona e recebem "beijinhos"

Público do Brasil Open não perdoou Mayer, bastante vaiado na derrota para Bellucci. Foto: Gaspar Nóbrega/ Inovafoto/Divulgação
Segundo o site oficial da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), se Leonardo Mayer não fosse tenista gostaria de ser "goleiro". Pois ele encontrou na noite desta sexta-feira uma espécie de Bombonera no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que "pulsava" e vibrava a cada lance como se não ocorresse ali uma partida de tênis do Aberto do Brasil e sim uma de futebol. O argentino acabou vaiado em quadra até perder a concentração e ser derrotado pelo brasileiro Thomaz Bellucci. Sobrou até para Diego Armando Maradona.
Toda a polêmica com a torcida começou no quarto game do segundo set. Mayer havia vencido a primeira parcial por 6/3 e servia em 1/2 e 40-15 quando alguns poucos espectadores começaram a gritar repetidamente: "tempo! Tempo!". O protesto era motivado pela demora do argentino para sacar - que conforme cronometrou o Terra realmente superava os 25 s regulamentares da ATP.
Instantes antes da manifestação dos torcedores o próprio Bellucci havia reclamado com o juiz de cadeira, o espanhol Félix Torralba, a quem fez um sinal indicando um relógio imaginário no punho. "Eu acho que ele (Mayer) estava passando do limite em algum momento ali, mas a minha intenção não era atiçar a torcida, não. Às vezes mesmo quando a torcida atrapalha tem que sacar (dentro do tempo) porque isso acontece. Se ficar parando toda hora, o jogo não vai rolar", disse Bellucci, em entrevista após a vitória por 3/6, 6/2 e 7/5 que o classificou à semifinal do torneio.
Mayer, de 1,88 m, faz todo um ritual para sacar. Ele pede geralmente três bolinhas e descarta uma até se dirigir à área de saque. Então dá três pequenos saltos em um só pé, bate a bolinha no chão, inclina o corpo à frente apoiado na perna esquerda e bate a bolinha de novo. Segundo cronometrou o Terra, o tenista jamais respeitou os 25 s para recolocar a bola em jogo quando serviu em 3/2, 4/3 e 5/4 no terceiro set - demorou no mínimo 27 s e no máximo 44 s, sendo que as marcas de 33 s, 34 s e 36 s apareceram mais de uma vez nos games citados.
É verdade, também, que raramente os juízes dão uma advertência aos jogadores por abuso de tempo. Atualmente número um e dois do mundo, o sérvio Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal são constantemente flagrados por cronômetros gerados por emissoras de televisão ultrapassando o limite regulamentar. Mais raro ainda é um árbitro aplicar a regra da reincidência, o que acarretaria perda de um ponto.
Justa ou não, a reclamação dos fãs no Ibirapuera apenas disparou o gatilho. Os cerca de 7.300 espectadores passaram a vibrar muito a cada erro de Mayer, incluindo nos equívocos no primeiro saque. O tenista perdeu a concentração imediatamente e também o segundo set por 6/2, mas se recuperou e controlava a pressão da torcida até sacar em 5/4 e 15-0 na terceira parcial. Nesse momento, sentiu o clima hostil e cometeu uma dupla-falta no 15-15 que recolocou Bellucci no jogo.
Até o primeiro grito de "tempo!" vindo da plateia, a torcida já criava um certo clima de Copa Davis, com comemoração nos erros do tenista "adversário", mas de forma mais contida. O argentino só tinha ouvido vaias efetivas quando, durante o aquecimento para a partida, o locutor o apresentou como um grande fã de Maradona.
O ex-jogador do Boca Juniors é citado no site da ATP como "a pessoa mais inspiradora na vida" de Mayer. O atleta, que mora em Buenos Aires e tinha sido aplaudido na entrada no ginásio, foi hostilizado na saída. Ele caminhou para deixar a quadra logo depois de cometer uma dupla-falta no match point e ainda mandou beijinhos para a torcida, em tom irônico, fazendo um gesto com a mão, e depois batendo no peito.
Um papel foi atirado em sua direção quando ele já entrava no túnel que dá acesso aos vestiários. O argentino não apareceu na sala de imprensa do Ibirapuera para falar sobre o comportamento dos fãs brasileiros - ele seria obrigado a dar a entrevista se houvesse o número mínimo de pedidos por escrito da parte dos jornalistas. Nem os repórteres previam que por um dia o Ibirapuera pudesse se transformar na Bombonera.
Fonte: http://esportes.terra.com.br/tenis/noticias/0,,OI5620084-EI1870,00-Fas+vaiam+argentino+implicam+com+Maradona+e+recebem+beijinhos.html